O curta-metragem Carpe Aeternitatem, produção do diretor Bruno Decc, impressionou-me muito. O primeiro que havia assistido foi A Toca dos Dois Signos: Epílogo, que mostra a história da humanidade por um outro viés, algo bem interessante.
Em Carpe Aeternitatem, também um filme experimental, é uma ficção científica que apresenta em sua história situações que permeiam a decisão de um homem que vive num futuro longínquo, entre perecer ou experenciar um ideal de imortalidade por meio da tecnologia, a qual tenta convencer o ser amado a juntar-se a ele nessa empreitada.
O curta-metragem cria uma tensão proposital entre passado, apresentado ao espectador, logo na sequência inicial, o período a.C, o filósofo grego Sócrates, interpretado pelo ator Paulo Herculano, compartilha seus pensamentos em torno da questão da morte como forma de libertação, e o futuro, em que desenrola a trama. Um drama psicológico explorado na medida certa.
Embora haja um grande salto de tempo, esses dois momentos “estão ligados entre si à medida que ambos perseguem a essência da existência humana, e essa perseguição tem sido mais duradoura do que códigos morais, crenças ou linguagem”. Além disso, também desmitifica essa ideia de futuro distópico. “Sinto como especialmente importante trabalhar essa percepção hoje, pois existe uma tendência ao pensamento distópico futurológico, onde gerações futuras são desumanizadas e menosprezadas, de certa forma”, menciona o diretor ao EntreLinha.
É notória a preocupação pelos detalhes em Carpe Aeternitatem, que além de fazer toda a diferença, enriquecem-no ainda mais, como, por exemplo, os idiomas falados no filme. O primeiro que ouvimos é o grego ático, uma língua arcaica falada no período de Sócrates; o segundo, denominado Futurese, desenvolvida pelo linguista Justin Rye, é projeção evolutiva da língua inglesa.
Os enquadramentos mais fechados, paletas de cores com tons barroco, luz e sombra para ambientar, evocar emoções e subjetividade, com o intuito de reforçar “a noção de que o futuro será apenas diferente, não necessariamente pior que o presente e tão humano quanto”, afirma Decc.
Exibido no XVI Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte, II Los Angeles CINEFEST e V AESTHETICA Short Film Festival, em Nova York, o filme experimental Carpe Aeternitatem nos causa certo estranhamento e, ao mesmo tempo, provoca a reflexão e a olhar mais atentamente as camadas presentes nas entrelinhas do filme.
Assista na íntegra:
* Texto de Erica Ribeiro publicado originalmente no Entrelinha Blog