O curta-metragem de animação brasileiro qualificado para o Oscar 2021 tem mais Ocidente do que Brasil. Dirigido por Helena Hilario e Mario Pece, fundadores da produtora Stratostorm, Umbrella acompanha a trajetória sentimental de Joseph, uma criança refugiada que vive em um orfanato. A história inspirada em um caso real adquire tom fabular na narrativa que maneja memórias afetivas em flashbacks e flashforwards.
A estética de Umbrella se assemelha a de grandes produções comerciais, com traços que aludem estúdios de animação estadunidenses, como Disney-Pixar. Essa escolha pode ser encarada como estratégia bem sucedida de recepção e circulação, já que o curta passou por dezenas de festivais no exterior, como o Festival de Cinema Tribeca (EUA) e o Animayo (Europa).
Apesar de assumir certo padrão estético e ousar pouco, a produção se engrandece na evidência dos detalhes. Um minucioso trabalho de direção de arte, assinado por Dhiego Guimarães, é realizado na construção tridimensional das paisagens e texturas de roupas, cabelos e objetos. A variedade de planos que exploram movimentações de câmera e o olhar subjetivo enriquecem o trabalho de criação e convidam à imersão no universo ficcional.
O curta preza pela qualidade técnica, mas a narrativa simplista limita seu alcance a outras audiências além do público infantil. Umbrella não tem o intuito de complexificar o drama da criança refugiada ou incluir o debate social, optando pelo tom fabular acrescido do clichê do primeiro amor improvável que resiste ao tempo.
As escolhas narrativas revelam a intenção de construir uma história de alcance “universal” concebida pelo Ocidente, com referências culturais definidas a partir da Europa e dos Estados Unidos, e não pelo Brasil. Ainda que abdique de diálogos, o imaginário recorre ao hemisfério norte, principalmente aos EUA, que se apresenta no quadro de boneco de neve, na vizinhança do subúrbio, na arquitetura dos ambientes e nas indicações escritas em inglês.
A narrativa é conduzida pelo olhar para o outro que constrói uma relação de alteridade e poder, mesmo quando representada por crianças. Os personagens mudam a percepção que têm de Joseph a partir de seu relato sobre as situações de risco e vulnerabilidade que viveu, mas sem contextualizar socialmente a crise humanitária dos refugiados. O enfático apelo emocional edificado sobre a condição do personagem reduz as camadas de complexidade e arrisca confundir o sentimento de empatia ao de condolência.
Umbrella estreia no YouTube nesta quinta-feira (7) e fica disponível até 21 de janeiro.