Pelo 9º ano consecutivo, Belo Horizonte será capital do cinema mundial com a realização da CineBH – Mostra de Cinema de Belo Horizonte, que acontece de 15 a 22 de outubro, na Fundação Clóvis Salgado e CentoeQuatro Centro Cultural. Serão 65 filmes brasileiros e internacionais (31 longas, 1 média e 33 curtas-metragens), em 45 sessões de cinema divididas por dois espaços de exibição (Cine Humberto Mauro e Cine 104). Entre os filmes a serem exibidos na Mostra, há trabalhos de nove países (França, Portugal, Argentina, Espanha, Áustria, EUA, Japão, Israel e Brasil) e representantes de oito estados brasileiros (Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Paraíba, São Paulo, Ceará e Distrito Federal). Toda a programação é oferecida gratuitamente ao público.

“Enquanto a Mostra CineBH  discute a criação e o papel do cinema na sua contemporaneidade, o Brasil CineMundi enfoca a coprodução e os desafios do setor audiovisual no mercado global. Juntos apresentam uma temporada audiovisual histórica em filmes, reflexões e atitudes e cumprem o propósito de ser um instrumento facilitador para conectar os profissionais brasileiros e estrangeiros, ampliar parcerias, ações de intercâmbio e cooperação internacional”, ressalta a diretora da Universo Produção e coordenadora do evento, Raquel Hallak.

A abertura da Mostra, acontece no dia 15 de outubro, quinta, às 20h, no Cine Humberto Mauro com  exibição do filme inédito “Mate-me Por Favor”, coprodução do Brasil com a Argentina e direção da carioca Anita Rocha da Silveira, em duas sessões 20h30 e 22h30. O filme foi selecionado este ano para o Festival de Veneza, na Itália.

HOMENAGEM À CINEASTA LUCRECIA MARTEL

A diretora argentina Lucrecia Martel será a homenageada da 9ª Mostra CineBH e do 6º Brasil CineMundi, escolhida não apenas por representar a celebração do cinema de uma das diretoras mais vigorosas da América Latina, mas é também uma comemoração de seu retorno depois de sete anos sem lançar um longa-metragem. Lucrecia Martel voltou ao set no começo desse ano para filmar “Zama”, seu primeiro filme “de época”, uma adaptação da obra de Antonio Di Benedetto que se passa nos últimos anos da colonização espanhola na Argentina. A realização do filme só se tornou possível graças a um modelo de coprodução que incluiu participações do Brasil (pela Bananeira Filmes, de Vania Catani) e Espanha (pela El Deseo, de Pedro Almodóvar e seu irmão Augustin), entre outros países.

Lucrecia Martel ganha uma retrospectiva de sua obra na programação do evento. Ao longo de 20 anos de carreira, realizou  três longas-metragens  antes de Zama e alguns curtas que serão exibidos: O Pântano (La Ciénaga, 2001), A Menina Santa (La Niña Santa, 2004) e A Mulher sem Cabeça (La Mujer sin Cabeza, 2007) e os curtas Nueva Argirópolis (2010), Pescados (2010), Muta (2011), Rey Muerto (1995) e Leguas (2015, episódio do filme coletivo El Aula Vacia). “Apesar de bastante diferentes entre si, os três longas de Martel guardam em comum um preciso domínio das ferramentas audiovisuais, empregadas sempre no sentido de manter o espectador em um estado constante de atenção e de dúvida”, diz Pedro Butcher, um dos curadores da 9ª CineBH.

Martel participa também de um encontro com o público da 9ª CineBH, no qual vai conversar sobre seus filmes, e também participará de uma mesa de debate ao lado dos produtores Benjamin Domenech e Vânia Catani para narrar sua experiência em Zama, que se encontra em fase de pós-produção.

TEMÁTICA CENTRAL

Com o tema “Criação e Resistência: o cinema contra a barbárie” a curadoria da 9ª Mostra CineBH assinada pelos críticos de cinema, Francis Vogner dos Reis e Pedro Butcher faz novamente proposições importantes para que se entenda o que acontece no cinema contemporâneo. Quais as questões – estéticas, criativas, poéticas – que os filmes estão propondo? Quais os impasses? Quais as afirmações? Esses são questionamentos tão simples quanto ancestrais no cinema. De Lumiére a Pedro Costa passando por Godard e o casal Straub-Huillet, o cinema sempre indagou o que fazer, por que fazer e como fazer. Sempre investigou o estatuto do real no cinema e quais os impasses dele como arte e como cultura. A arte não como mais valia, mas como ato de civilização frente à barbárie.

Tendo isso em vista, os curadores guiaram suas escolhas por filmes que buscam pensar o estatuto da criação artística no cinema e seu papel frente a um processo acelerado de banalização de categorias que até certo momento do século XX aferiu uma aura de integridade ao cinema como experimentação e, sobretudo, autoria. “O papel do autor há muito se tornou um lugar comum que mais agrega valor ao filme-produto do que diz algo de relevante sobre sua fatura estética. Por isso, optamos pela ideia de criação – em detrimento da de autoria – e de arte, em detrimento de uma noção vulgar de indústria”, afirmam Francis e Pedro Butcher.

OS FILMES

Em oito dias de programação intensa e gratuita, a 9ª CineBH traz para a capital mineira uma seleção de 65 filmes nacionais e internacionais, duas retrospectivas de autor, uma série de produções em curtas-metragens e mostras temáticas.

Os filmes selecionados fazem uma reflexão – seja no seu tema, seja no modo como são feitos – sobre o trabalho do cinema como negação da automatização do consumo e da produção massiva de imagens. Qual a relevância da criação e da fruição artística em um momento em que a imagem – e a própria noção de arte – está subordinada ao ritmo célere e efemeridade? Em que a própria arte, em vez de fazer frente contra a barbárie, toma parte nela?, interrogam os curadores da Mostra, Francis Vogner e Pedro Butcher.

Na Mostra Contemporânea, com curadoria de Francis Vogner dos Reis e Pedro Butcher, filmes brasileiros e estrangeiros dividem as atenções. A seleção não se ateve apenas a longas recém-lançados, mas também a produções que tiveram grande circulação em festivais no mundo todo e permaneciam inéditas no Brasil. “Nossas escolhas se guiaram por filmes que buscam pensar o estatuto da criação artística no cinema e seu papel frente a um processo acelerado de banalização de categorias que até certo momento do século XX aferiu uma aura de integridade ao cinema como experimentação e, sobretudo, autoria”, diz Butcher. “Muitos dos filmes que compõem a programação da 9ª CineBH se localizam em espaços clássicos de civilização, como escola, teatro ou museu (incluindo uma cinemateca). A atividade de muitos personagens é a fruição pura e simples, a criação artística e o magistério. Em outros casos, o modo de produção do filme é artesanal (anti-industrial), como um romance, uma peça ou um texto poético”.

Assim, o público da mostra tomará contato com filmes de diretores essenciais da produção recente, tais como Jem Cohen (Museum Hours), Manuel Mozos (João Bénard da Costa – Outros Amarão as Coisas que Amei), James Benning (Natural History), Pierre León (Deux, Rémi, Deux), Paul Vecchiali (Faux Accords) e Takashi Miike (Shield of Straw). Outros destaques são La Princesa de Francia (Matias Piñeyro) e L’academia delle Muse (José Luís Guérin). Do Brasil, além de Mate-me Por Favor na abertura, estão na programação A Morte Diária (Daniel Lentini), O Touro (Larissa Figueiredo) e os quatro filmes do projeto Tela Brilhadora, compostos por Garoto (Julio Bressane), O Prefeito (Bruno Safadi), O Espelho (Rodrigo Lima) e Origem do Mundo (Moa Batsow).

Repetindo uma das ações de maior sucesso no ano passado, a CineBH retorna com a mostra Diálogos Históricos, que vai exibir quatro longas-metragens clássicos em cópias restauradas, seguidos de bate-papo com críticos e pesquisadores. Os filmes deste ano são todos franceses: French Can Can (Jean Renoir, 1954), O Desprezo (Jean-Luc Godard, 1963), Os Olhos sem Rosto (Georges Franju, 1960) e Zero em Comportamento (Jean Vigo, 1933).

OS DESAFIOS ESTÉTICOS E DE PRODUÇÃO DOS CURTAS-METRAGENS

A Mostra CineBH, como plataforma de exibição e discussão de filmes ligadas a questões econômicas e de produção, empenha-se em trazer sessões de curtas-metragens que reflitam o movimento geral do festival. Segundo os curadores da seleção de curtas Pedro Maciel Guimarães e Francis Vogner dos Reis “os filmes selecionados para esta edição colocam questões sobre como interagir com profissionais de outros países e como usar o documentário como linguagem de intervenção na sociedade e no espaço urbano. Mais do que reunir o melhor da produção de curtas recentes, é preciso pensar num formato de exibição que valorize as particularidades estéticas, econômicas e práticas de viabilização de filmes curtos no Brasil”.

A seleção da Mostra Curtas apresenta  33 filmes que transitam pela diversidade característica do formato, com vários títulos de pouca circulação em festivais brasileiros. Houve o cuidado de atentar para realizações fora dos holofotes, com gestos significativos de criação que muitas vezes não recebem a devida atenção. Realizadores veteranos como Carlos Adriano (Sem Título#1: Dance of Leifossil) e Beth Formaggini (Uma Família Ilustre) dividem espaço com novos diretores, como Diego Hoefel (Cidade Nova) e Davi de Oliveira Pinheiro (Another Empty Space), entre vários outros.

A outra retrospectiva da Mostra será dedicada aos curtas-metragens da produtora paraibana Vermelho Profundo, que vem se destacando no cenário audiovisual de festivais com produções em diálogo direto com o gênero do horror e da ficção científica. Estão na programação Cova Aberta (Ian Abé, 2013), Enquanto a Justiça Tarda (Fabiano Raposo, 2009), Mais Denso que Sangue (Ian Abé, 2011), O Desejo do Morto (Ramon Porto Mota, 2013), O Hóspede (Ramon Porto Mota e Anacã Agra, 2011) e Os Mortos (Jhésus Tribuzi, 2015). “A construção de atmosfera e o rigor cênico dão o tom de filmes que possuem uma plasticidade imaginativa, mesmo com notáveis diferenças no estilo dos diretores”, destaca Francis Vogner dos Reis, curador da CineBH.

BRASIL CINEMUNDI – O EVENTO DE MERCADO DO CINEMA BRASILEIRO

A coprodução internacional surge cada vez mais como uma alternativa de viabilização de obras cinematográficas com perfil mais autoral, alternativa para distribuir os filmes a um mercado mais amplo que o local, para fomentar o intercâmbio de culturas, tecnologias e profissionais. Contribui para o compartilhamento de experiências e conhecimento entre os profissionais de diferentes nacionalidades, estimula novos modos de produção e visões diferentes de mundo e de cinema.

O Brasil CineMundi – Internacional Coproduction Meeting, evento de mercado do cinema brasileiro, em sua 6ª edição, de 15 a 19 de outubro,  integra a programação da 9ª Mostra CineBH  e desempenha o papel de desenvolver, capacitar e solidificar os caminhos da coprodução no cenário do audiovisual brasileiro. Consolida-se como espaço e plataforma de rede de contatos e negócios para o cinema brasileiro em intercâmbio com o mundo.

Nesta edição, além dos convidados do Brasil, participam 21 convidados internacionais representativos da indústria audiovisual mundial de 11 países – Alemanha, Argentina, Chile, Colômbia, França, Noruega, Estados Unidos, Suíça, Uruguai, Espanha e Brasil que desembarcam na capital mineira para participar das diversas atividades promovidas pelo evento e conhecer os 15 projetos selecionados que estarão participando das rodadas de negócios .

Ao final do evento, um júri vai escolher o melhor projeto de longa brasileiro em fase de desenvolvimento.  Ele será premiado com materiais e serviços oferecidos pelos parceiros do programa. Os projetos selecionados concorrem também a vagas para participar do Torino Film Lab, evento de coprodução na Itália(em novembro), vagas no Ventana Sur (Argentina), em dezembro e no Cinelatino – Toulouse (França), em março de 2016.

MOSTRINHA E CINE-EXPRESSÃO

Cinema e educação andam de mãos dadas na programação da 9ª Mostra CineBH que promove  mais uma edição do programa Cine Expressão – A Escola vai ao cinema. Professores das escolas de Belo Horizonte, públicas ou privadas, podem se inscrever gratuitamente para levarem suas turmas ao cinema durante o evento. Serão oito sessões gratuitas de três longas contemporâneos voltados ao público infantil e jovem. As inscrições estão abertas no site oficial da Mostra até o dia 5 de outubro.

E, no sábado, dia 17, tem sessão especial dedicada à família e aos jovens com exibição do filme “Últimas conversas”, direção de Eduardo Coutinho. O cineasta entrevista diversos estudantes do ensino médio público no Rio de Janeiro, perguntando sobre suas vidas atuais e expectativas para o futuro.

Coutinho morreu antes de finalizar “Últimas Conversas”. O projeto foi assumido por João Moreira Salles, diretor e produtor da VideoFilmes, e pela montadora Jordana Berg. Foram filmados aproximadamente 30 jovens dos 250 inicialmente pesquisados. O material bruto tem 32 horas.

OFICINAS E WORKSHOPS

O evento oferece um amplo programa de capacitação e formação para profissionais do setor, da educação, jovens e interessados em cinema. Este ano serão oito modalidades de curso – cinco oficinas e três workshops internacionais com a oferta de 305 vagas que acontecem nas dependências da Fundação Clovis Salgado (Palácio das Artes), Av. Afonso Pena 1537, durante a realização do evento. Os interessados em preencher uma das vagas têm até o dia 7 de outubro, até às 20 horas (horário de Brasília), para se inscreverem pelo site oficial do evento www.cinebh.com.br.

A 9ª Mostra CineBH e o 6º Brasil CineMundi integram o Cinema sem Fronteiras – programa internacional de audiovisual que a Universo Produção realiza em Minas Gerais e São Paulo e reúne também a Mostra de Cinema de Tiradentes (centrada na produção contemporânea, em janeiro), a CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto (foco na preservação, história e educação, em junho).

Toda a programação é oferecida gratuitamente ao público e pode ser conferida pelo site cinebh.com.br