O Festival de Cannes, um dos eventos de cinema mais renomados do mundo, anunciou nesta quinta (3) os selecionados para a 74ª edição. Mais de 60 filmes compõem a programação, entre eles o novo do cearense Karim Aïnouz, o documentário O Marinheiro das Montanhas. Cancelado em 2020 devido à pandemia da COVID-19, o festival neste ano acontece de 6 a 17 de julho em formato presencial, adotando medidas preventivas.
O filme de Karim integra a mostra Sessões Especiais, que apresenta mais quatro títulos: Black Notebooks (Shlomi Elkabetz, Israel), Babi Yar. Context (Sergei Loznitsa, Ucrânia), H6 (Yé Yé, França) e The Year of Everlasting Storm (Jafar Panahi, Anthony Chen, Malik Vitthal, Laura Poitras, Dominga Sotomayor, David Lowery e Apichatpong Weerasethakul). Em O Marinheiro das Montanhas, o diretor brasileiro assume um viés autobiográfico. A narrativa é tecida a partir da história de seus pais Iracema, uma brasileira, e Majid, um argelino, que se conheceram nos Estados Unidos e depois retornaram aos seus países de origem.
O documentário é uma jornada sentimental de Marselha para Argélia, onde Karim conhece o vilarejo onde seu pai viveu, numa região montanhosa e coberta por neve. Em entrevista ao Estadão, ele explica que o processo se assemelha ao de Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo, longa de 2010 codirigido com Marcelo Gomes em que criaram a trama a partir de registros documentais feitos anteriormente. Ainda em entrevista, o diretor explicou o filme como uma “viagem de reconhecimento de dois países” e um “memoir” (“narrativa de memórias”) de si.
Em 2019, Karim venceu o prêmio Um Certo Olhar do Festival de Cannes com A Vida Invisível. Ele foi jurado do festival em 2012, década em que realizou os premiados Abismo Prateado e Praia do Futuro. Seu olhar sensível que constrói personagens contestadoras se expressa desde os primeiros longas, Madame Satã e O Céu de Suely, além de estar presente nos quase dez curtas, vídeos e na série televisiva Alice. Karim também dirigiu um dos seguimentos de Catedrais da Cultura, junto a nomes como Wim Wenders e Robert Redford.
O Marinheiro das Montanhas é o único longa brasileiro em Cannes 2021, mas o Brasil ainda tem chances entre os curtas-metragens, ainda não divulgados. Da região da América Latina e Caribe, há dois representantes: Freda, da haitiana Gessica Généus, e Noche de Fuego, da mexicana Tatiana Heuzo, ambos na mostra Um Certo Olhar. Na competição principal, concorrem ao Palma de Ouro 24 títulos de 15 países (lista completa no site do festival). O júri deste ano é presidido pelo diretor, roteirista e produtor Spike Lee.