Embora a Lei Maria da Penha, que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, tenha sido sancionada há 10 anos, esse tipo de crime ainda é alarmante no Brasil. Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Avon, em parceria com a Data Popular, em 2014, três em cada cinco mulheres disseram já ter sofrido violência em relacionamentos. De acordo com os atendimentos realizados pela Central de Atendimento à Mulher da Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) de janeiro a outubro de 2015, 38,72% das mulheres em situação de violência sofrem agressões diariamente; para 33,86% delas, a agressão é semanal.

Para chamar a atenção para o assunto, diversas cineastas produziram documentários, animações, curtas e longas que abordam a violência contra as mulheres. As obras serão exibidas gratuitamente na Mostra Edital Carmen Santos – Cinema de Mulheres e Filmes Convidados, promovida pela Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura (SAv/MinC), de 23 de março a 4 de abril, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de Brasília.

Um dos curtas a serem exibidos no festival é a animação Prelúdio, de Júlia Peres. A obra conta a história de uma menina cuja família é marcada pela violência e que encontra na música um refúgio. Outro curta que aborda a temática da violência contra a mulher na Mostra é a ficção Os anseios das cunhãs. O filme tem como tema a prostituição, a violência e a exploração femininas, desencadeadas pelo advento da Zona Franca de Manaus, que motivou a migração especialmente de meninas do interior do estado do Amazonas, atraídas pelo sonho de uma vida melhor na capital.

O documentário Quem matou Eloá? propõe reflexão sobre a atuação da mídia televisiva nos casos de violência contra a mulher. Da cineasta Fabiana de Lima Leite, o filme A batalha das colheres conta a história de Salomão, um homem truculento que, depois de atacar a companheira, foge para a casa da amante: uma mulher que não cederá aos seus abusos.

Por fim, o documentário Atadas, da diretora Tarsila Venâncio Nakamura, relata depoimentos de algumas mulheres que foram agredidas por seus maridos. A obra busca entender os diversos aspectos que motivaram a decisão de continuar com eles. Para realizar o curta, Tarsila participou de rodas de conversas com vítimas de violência doméstica e fez inúmeras pesquisas sobre o tema. “O que mais me surpreendeu é como, apesar de todo o sofrimento e de agressões de todos os tipos, as mulheres ainda permaneciam nesses relacionamentos”, conta. “O objetivo do filme é fazer a pessoa pensar nesse assunto, que não é tão simples de entender”, completa.

Tarsila ressalta que mulheres ainda são minoria do mundo do audiovisual e que ainda sofrem preconceito. “Os principais produtos são de diretores e roteiristas homens, por isso acho importante a SAv dar voz às mulheres e aos pontos de vista das mulheres”, afirma.

Todas os curtas e longas que serão exibidos na morta foram realizados graças ao edital Carmem Santos Cinema de Mulheres, lançado em 2013 pela SAv/MinC. A iniciativa teve como objetivo apoiar a produção audiovisual assinada e dirigida por mulheres.

Serviço
Mostra Edital Carmen Santos – Cinema de Mulheres e Filmes Convidados
De 23 de março a 4 de abril
Local: Cinema do CCBB/Brasília
Sessões: 17h, 19h e 21h (segundas, quartas, quintas e sextas) e às 16h, 18h e 20h (sábados e domingos). O CCBB fecha às terças-feiras.
Entrada franca