Em uma declaração dada na tarde desta quarta-feira (18), a atriz Fernanda Montenegro, 86, confirmou o seu apoio contra as medidas tomadas no campo da cultura pelo presidente interino Michel Temer. A declaração foi dada a jornalistas que acompanhavam a participação da veterana na gravação da série Mister Brau, exibida pela TV Globo.
“Isso é uma tragédia. E o presidente interino vai pagar um preço alto por essa visão de um ministério [da Cultura] que é sempre dotado de um orçamento miserável, mas é a base de um país. Esse congresso aí pode achar que é uma bobagem, uma frescura ou (coisa) de veados ou de alienados ou… Esse governo, até quando ele existir na atual conjuntura do Temer, vai sofrer um protesto violento, e eu estou neste protesto. É uma tragédia e o presidente interino vai pagar um preço alto pela pouca visão”, disse Fernanda Montenegro.
Manifestações
Movimentos organizados por intelectuais e pela classe artística vêm ganhando força e visibilidade no território nacional e também no exterior. Com ocupações de prédios públicos, manifestações nas redes sociais e pronunciamentos de figuras icônicas do meio, como Fernanda Montenegro, o Brasil divide opiniões sobre os manifestos.
Enquanto uns reiteram a importância da cultura no desenvolvimento social, outros acreditam que o fim do ministério da Cultura marca o fim da “mamata” dos profissionais. O deputado Marco Feliciano (PSC/SP) foi um dos que apoiaram a decisão de Michel Temer e provocou os profissionais da área em vídeo publicado no Facebook. “Vão arrumar o que fazer”, disse.
Até o momento, um dos episódios mais marcantes aconteceu no tapete vermelho do Festival de Cannes, na França, e gerou uma onda de protestos incentivando o boicote ao filme que concorre ao Palma de Ouro, Aquarius. A equipe do filme chamou atenção da imprensa internacional ao levantar papéis e faixas que denunciavam o Golpe de Estado no Brasil.
Na coletiva de imprensa, o diretor do filme Kleber Mendonça Filho ressaltou a importância do Ministério da Cultura (MinC). “Estamos aqui em Cannes por causa de investimentos honestos garantidos por políticas públicas”, afirmou. No Twitter, pessoas contrárias à manifestação da equipe de Aquarius criaram a hashtag #boicoteaquarius, convocação reafirmada pelo colunista da Veja Reinaldo Azevedo: “Assim que ‘Aquarius’ estrear no Brasil, o dever das pessoas de bem é boicotá-lo. Que os esquerdistas garantam a bilheteria”, é o título de seu artigo.
Cenário político
Diversos profissionais da cultura vêm mostrando resistência às medidas tomadas pelo atual governo, principalmente com o fechamento do Ministério da Cultura, criado há 31 anos. Após cinco mulheres negarem o convite de assumir a Secretaria Nacional de Cultura, o comando foi passado para Marcelo Calero, secretário de Cultura da Prefeitura do Rio de Janeiro. Quem responde no momento pelo ministério da Educação e Cultura é Mendonça Filho (DEM-PE).
Nesta quarta, o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) propôs ao presidente interino a recriação do MinC e se comprometeu a conduzir o processo. Ele explicou que a recriação do ministério pode ser feita por meio de emenda à medida provisória. Renan afirmou que Temer “ficou de refletir” sobre a proposta. O criador do MinC, José Sarney, também cobrou do presidente interino o retorno da pasta.
Em pronunciamento, Renan Calheiros justificou a decisão para recriação do ministério. “Acho que [o ministério] é muito relevante para ser reduzido a uma questão contábil, orçamentária. O Ministério da Cultura não vai quebrar o Brasil, mas a sua extinção quebrará a nação. Extinguir o ministério pode significar, do ponto de vista desse segmento que é importantíssimo, um retrocesso. […] Nós cuidaríamos disso aqui por ocasião da tramitação da medida provisória aqui no Congresso Nacional”, disse.