Para quem gosta de Cinema, Jornalismo e Brasil, assim como eu, Baile Perfumado é um filme obrigatório. E é por isso que começo minha sessão de sugestões, elogios e impressões de produções do nosso cinema nacional, aqui no Assiste Brasil, com ele. A película de 1996, que marca uma importante retomada do cinema pernambucano no cenário nacional, trata sobre uma fantástica empreitada do fotógrafo, comerciante, e, mais importante, inquieto libanês Benjamin Abrahão, imigrante asiático que fez do Nordeste residência da sua mudança do mundo.
Amigo pessoal e secretário de Padre Cícero, importante liderança nordestina política e de fé, Benjamin conheceu Lampião em 1926, em Juazeiro do Norte, no cariri cearense. Três anos depois e após a morte do sacerdote cearense, o libanês conseguiu a façanha de filmar o rei do cangaço em momentos íntimos com seu bando, sob autorização do próprio.
Baile Perfumado, codirigido por Lírio Ferreira e Paulo Caldas, conta justamente a aventura de Benjamin em sua grandiosa missão de registrar filmicamente o dia a dia do cangaceiro mais procurado pelo Estado brasileiro naquela época. A grande dificuldade de concretizar sua ideia era se aproximar de Virgulino e convencer o cangaceiro a deixá-lo passar alguns dias acompanhando a rotina do bando.
Era complicado se achegar em Lampião tanto fisicamente, porque o grupo fugia sempre que as forças nacionais tentavam sufocar o cangaço, quanto psicologicamente, já que Benjamin queria estar dentro das experiências diárias do bando, o que não parecia uma boa ideia.
Mas Benjamin era amigo do “Padim”. E isso é coisa que Lampião precisava considerar. E assim fez. Botou fé no libanês. E o deixou filmar.
A narrativa do filme de Ferreira e Caldas, e as imagens originais de Benjamin, inclusive utilizadas em Baile Perfurmado, fogem de uma construção da figura imponente, resistente e violenta de Lampião, e mostram um Virgulino vaidoso, descobrindo os primeiros passos da modernização daquela época, brincando com a câmera fotográfica, passando perfume francês e tomando uísque importado, no baile do bando.
A trilha sonora, aliás, evidencia o grande momento que Pernambuco vivia musicalmente. Baile Perfumado traz o som de Chico Science e Nação Zumbi, Fred Zero Quatro, Mestre Ambrósio, dentre outros artistas. Mestre Ambrósio, uma das bandas mais talentosas do Recife, que, por sinal, toca no famigerado baile a música Baile Catingoso, do grupo, lançada no primeiro CD deles. Mais tarde a canção se faz presente no repertório do disco “Fuá na Casa de Cabral”, trabalho de maior repercussão da turma.
A narrativa da película se permite falar de Lampião sem focar em sua famosa figura envolta em um chapéu de couro e com braço armado erguido. Mas sim um líder respeitado e que busca e vive momentos de paz. O protagonismo mesmo do drama fica com Benjamin que, com sua competente habilidade mercantilista, consegue o improvável feito de receber as bênçãos do cangaceiro mais famoso do Brasil, que se dá uma chance de eternizar características inesperadas, em imagens. Os trabalhos de interpretação de Duda Mamberti, como Benjamin Abrahão, e do meu conterrâneo, Luiz Carlos Vasconcelos, como Lampião, são profundos e colocam qualquer um dentro da aventura.
Quem não viu, curta aí esse longa, em forma de baile: