Em 1987, o antropólogo, indigenista e documentarista franco-brasileiro Vincent Carelli criou o projeto Vídeo nas Aldeias (VNA) para levar as primeiras câmeras VHS às aldeias indígenas no Brasil. Seu objetivo era apresentar aos povos um instrumento acessível de expressão para que, assim, pudessem fortalecer sua imagem, preservar e repassar sua memória histórica, tanto para futuras gerações quanto para outros povos – indígenas e não-indígenas.
Incentivando o encontro do índio com sua imagem e cultura, apoiando as lutas em prol do fortalecimento de sua identidade e dos patrimônios culturais e territoriais, a premissa do VNA é a produção compartilhada. Oferecendo suporte técnico e financeiro para a produção e difusão dos vídeos entre os povos, os cineastas indígenas tornam-se sujeitos de seus próprios discursos e compõem novos espaços de diálogo intercultural.
Catálogo
No site oficial do projeto, estão catalogadas quase 100 produções, que podem ser filtradas por etnia ou povo, registrando ficha técnica, fotos, trailers e outras informações de curtas e longas-metragens. Também estão organizados todos os realizadores participantes do VNA, onde é possível consultar seus trabalhos já realizados, assim como os festivais em que já participou.
Entre os trabalhos que contaram com o apoio do projeto, está As Hiper Mulheres (Itão Keugü), dirigido por Leonardo Sette e Carlos Fausto. O documentário, que retrata um tradicional ritual do povo xingu, esteve em 2015 no Festival de Berlim e está disponível no Netflix.
História
O VNA surgiu dentro das atividades da ONG Centro de Trabalho Indigenista, como um experimento realizado por Vincent Carelli entre os índios Nambiquara. O ato de filmá-los e deixá-los assistir o material filmado, foi gerando uma mobilização coletiva. Diante do potencial que o instrumento apresentava, esta experiência foi sendo levada a outros grupos, e gerando uma série de vídeo sobre como cada povo incorporava o vídeo de uma maneira particular.
Em 1997, foi realizada a primeira oficina de formação na aldeia Xavante de Sangradouro. O VNA foi distribuindo equipamentos de exibição e câmeras de vídeo para estas comunidades, e foi criando uma rede de distribuição dos vídeos que iam produzindo. Foi se desenvolvendo e gerando novas experiências, como promover o encontro na vida real dos povos que tinham se conhecido através do vídeo, “ficcionar” seus mitos, etc.
O VNA foi se tornando cada vez mais um centro de produção de vídeos e uma escola de formação audiovisual para povos indígenas. Desde o “Programa de Índio” para televisão em 1995, até a atual Coleção Cineastas Indígenas, passando por todas as oficinas de filmagem e de edição do VNA, em parceria com ONGs e Associações Indígenas, o projeto coloca a produção audiovisual compartilhada ao centro das suas preocupações.
Em 2000, o Vídeo nas Aldeias se constituiu como uma ONG independente. A trajetória do Vídeo nas Aldeias permitiu criar um importante acervo de imagens sobre os povos indígenas no Brasil e produzir uma coleção de mais de 70 filmes, a maioria deles premiados nacional e internacionalmente, transformando-se em uma referência nesta área.
No livro-vídeo bilíngue Vídeo nas Aldeias – 25 Anos, estão reunidos depoimentos, ensaios críticos e fotográficos em celebração ao projeto. Em quase três décadas, o Vídeo nas Aldeias já realizou trabalhos junto a 37 povos indígenas e promoveu oficinas em mais de 127 aldeias.
Para conhecer mais, acesse também o canal do Vimeo e do YouTube do Vídeo nas Aldeias.