O site The Daily Beast convidou o cineasta Martin Scorsese para elaborar uma lista histórica: uma seleção pessoal dos filmes mais assustadores da história do cinema. Scorsese, que já fez filmes do gênero, tais como Cabo do Medo(1991) e Ilha do Medo (2010), pareceu não simpatizar muito pelos filmes da nova geração.
Nada de produções repletas de efeitos digitais 3D Ultra HD Max. Para o cineasta, os melhores e mais assustadores filmes de horror são da era do cinema preto e branco. O “mais recente” que aparece em sua seleção pessoal é O Enigma do Mal (1982). Também aparecem títulos clássicos e populares como O Exorcista (1973), Psicose(1960) e O Iluminado (1980).
No entanto, entre os onze selecionados, um nome chama a atenção: Alberto Cavalcanti. Sim, o nome não apenas parece como é brasileiro. Alberto Cavalcanti, ou Cav, como era conhecido no exterior, assina a direção de dois dos segmentos que compõem o longa-metragem Na Solidão da Noite (1945), filme de terror britânico produzido pela Ealing Studios.
O clássico filme é dividido em cinco contos de horror interligados por um tema central. A produção foi uma das precursoras do formato de antologia, estilo que se tornou um modelo para apresentação de histórias sobrenaturais no audiovisual. Os segmentos são dirigidos por quatro cineastas: além de Cavalcanti, participam os britânicos Basil Dearden, Robert Hamer e Charles Crichton.
Baseado em histórias de H.G.Wells, E.F. Benson, John Baines e Angus MacPhail, Na Solidão da Noite foi um dos primeiros filmes de horror a serem produzidos na Inglaterra desde o começo da Segunda Guerra Mundial. Na época, a censura no país bania filmes do gênero devido ao excesso de violência, assim como a maioria das obras cinematográficas norte-americanas.
Quarto escuro e mistérios
O personagem central de Na Solidão da Noite é o arquiteto Walter Craig (Mervyn Johns), que é convidado a passar um fim de semana acompanhando as reformas de uma casa de campo. No entanto, Walter sofre com pesadelos constantes e tem uma surpresa ao chegar a seu destino: as pessoas que aparecem em seus pesadelos são as mesmas que estão na casa. Estranhamente, elas começam a narrar suas histórias de vida.
Alberto Cavalcanti dirige o segundo segmento da antologia. The Christmas Story conta a história de Sally O’Hara (Sally Ann Howes), que encontra um garoto chorando em um quarto oculto e escuro durante a festa de Natal em uma velha mansão. Ao final, Sally irá descobrir a história do misterioso garoto e por que chorava naquele quarto.
Ventriloquia
O último e o mais famoso dos episódios de Na Solidão da Noite é The Ventriloquist’s Dummy, também dirigido por Alberto Cavalcanti. O ator Michael Redgrave é Maxwell Frere, um ventríloquista esquizofrênico que ora assume sua própria personalidade, ora a de Hugo, o boneco que manipulava. Em um de seus momentos de conflito de personalidade, Hugo induz Maxwell a cometer um ação sem volta.
O boneco de ventríloquo virou uma referência de horror no cinema do gênero e sua história foi refilmada e adaptada diversas vezes. Uma delas foi em 1962, no episódio The Dummy, da série Além da Imaginação (The Twilight Zone, 1959-64), escrito por Rod Serling e estrelado por Cliff Robertson. Um pouco antes, em 1960, a história de Maxwell e Hugo também serviram de referência para Alfred Hitchcock construir a relação dos personagens Norma e Norman Bates, do clássico filme Psicose.
Na lista dos filmes mais assustadores de Scorsese, Na Solidão da Noite aparece em quinto lugar. Confira abaixo o ranking completo:
1- Desafio ao Além (1963), de Robert Wise
2- A Ilha dos Mortos (1945), de Mark Robson
3- O Solar das Almas Perdidas (1944), de Lewis Allen
4- O Enigma do Mal (1982), de Sidney J. Furie
5- Na Solidão da Noite (1945), de Alberto Cavalcanti, Charles Crichton, Basil Dearden e Robert Hamer
6- Intermediário do Diabo (1980), de Peter Medak
7- O Iluminado (1980), de Stanley Kubrick
8- O Exorcista (1973), de William Friedkin
9- A Noite do Demônio (1957), de Jacques Tourneur
10- Os Inocentes (1961), de Jack Clayton
11- Psicose (1960), de Alfred Hitchcock
