Este ano as produções brasileiras marcam forte presença no Festival de Cannes, na França. Além de concorrer ao prêmio principal, o Palma de Ouro, com Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, e A Moça que Dançou com o Diabo, de João Paulo Miranda, o Brasil está nas mostras paralelas e também representado entre os jurados.
Mas, não é de agora que o cinema brasileiro deixa sua marca em um dos maiores e mais prestigiados festivais de cinema do mundo. A primeira participação aconteceu em 1949, com o filme Sertão, de João G. Martin, exibido na terceira edição do evento. O Brasil retornou à Riviera Francesa em 1951 e 1952, dessa vez em competição, com Caiçara e Tico Tico no Fubá, respectivamente, ambos de Adolfo Celi.
Em 1953, na quarta participação do cinema brasileiro em Cannes, sai o primeiro prêmio. O Cangaceiro, de Lima Barreto, apesar de não ter levado o prêmio principal, o Grand Prix du Festival International du Film (antecessor da Palma de Ouro), teve o seu reconhecimento. O clássico venceu na categoria de Melhor Filme de Aventura e recebeu Menção Honrosa pela Trilha Sonora (Gabriel Migliori).
O Cangaceiro
Baseado na obra literária de Lima Barreto, O Cangaceiro é considerado o melhor filme já produzido pela Companhia Cinematográfica Vera Cruz, a antiga “Hollywood” brasileira. O drama conta a história de um grupo de cangaceiros que fica dividido após o surgimento de uma bela mulher.
Com a atmosfera de faroeste nordestino, somado ao drama romântico, épico e histórico, tornou-se uma temática clássica e frequente no cinema brasileiro, criando o gênero cangaço. Lima Barreto contou com a colaboração da romancista Rachel de Queiroz no roteiro.
O clássico de Lima Barreto foi o primeiro longa-metragem brasileiro a chegar no exterior e ser bem recebido em festivais e cinemas comerciais. Distribuído em mais de 80 países, ficou cinco anos em cartaz só na França. Já no Brasil, de bilheteria arrecadou R$ 3 milhões, na época em que a população brasileira era de apenas 52 milhões.
Mas, nem só alegrias marcam a história de O Cangaceiro. Devido ao contrato de distribuição com a Columbia, a Vera Cruz recebeu apenas R$ 1 bilhão do total arrecadado no Brasil, quantia insuficiente para cobrir o orçamento de R$ 1,5 bilhão. Para piorar sua situação, o estúdio também não teve participação em nenhuma das bilheterias do exterior.
A Vera Cruz quebrou em 1954, e o “responsável” por isso? O Cangaceiro.
Assista ao filme completo, que tem como música tema Mulher Rendeira, interpretada por Vanja Orico e pelo coro dos Demônios da Garoa: