Com um catálogo que reúne quase 100 títulos, o Afroflix é um espaço de afirmação de profissionais negros no audiovisual brasileiro. Os conteúdos são disponibilizados gratuitamente e atendem à condição de ter produção, roteiro, direção ou seja protagonizado por pelo menos uma pessoa negra.

A plataforma foi idealizada pela equipe do curta-metragem Kbela, dirigido por Yasmin Thayná. A produção independente, realizada a partir de financiamento coletivo, com equipe predominantemente negra era uma exceção no mercado de distribuição. Assim surgiu a ideia de uma plataforma que tornassem acessíveis as produções do grupo social e representasse a diversidade no audiovisual brasileiro.

Predominância masculina e branca

Entre 2002 e 2014, homens brancos protagonizaram as 20 maiores bilheterias de filmes brasileiros de cada ano, representando 45% dos papéis relevantes dos filmes. Em seguida, mulheres brancas (35%), homens negros (15%) e, por último, mulheres negras (apenas 5%). Esses resultados foram obtidos pelo Grupo de Estudo Multidisciplinar de Ação Afirmativo (GEMAA), da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), no estudo Raça e Gênero no Cinema Brasileiro.

A discrepância é ainda mais gritante quando se olha para os diretores e roteiristas: 84% dos cineastas são homens brancos. Mulheres brancas representam 14% e apenas 2% são homens negros. Quanto às diretoras negras: 0%. Isso mesmo: nenhuma mulher negra dirigiu uma produção de grande bilheteria nos 13 anos analisados pelo estudo. Elas também não assinaram nenhum roteiro, em contrapartida dos homens brancos, responsáveis por 69% dos textos.

Como participar do catálogo

Além da exigência de contar com pelo menos uma pessoa negra na equipe, a curadoria também realiza análises técnicas. Roteiro, linguagem, experimentação e criatividade são fatores relevantes no processo de seleção.

Em entrevista à EBC , a cineasta Yasmin Thayná explica que não é uma obrigação o filme tratar sobre a questão étnico-racial. “Pode ser qualquer conteúdo audiovisual, mas a pessoa negra precisa estar entre os realizadores”, destaca.

As inscrições na plataforma são feitas através de formulários. Os realizadores podem enviar diretamente seus trabalhos e os espectadores também podem participar fazendo indicações. A curadoria organiza o conteúdo em oito categorias, dentre elas documentário, ficção, experimental e série.

Atualização (20/11/19, às 17h50): o curta-metragem Kbela, de Yasmin Thayná, está disponível para assistir online.