Sob a censura da ditadura militar, na virada dos anos 1960 para os anos 1970, uma geração de diretores reagiu ao extremo intelectualismo pregado pelo Cinema Novo. A esse movimento cinematográfico, deu-se o nome de Cinema Marginal, que tinha como um dos expoentes o diretor italiano radicado no Brasil Andrea Tonacci.
Em quatro décadas, Tonacci dirigiu dois curtas e nove longa-metragens. A curta filmografia justifica-se por dois longos intervalos de 10 anos que passou sem produzir filmes devido a falta de financiamento. O fato é justificado pelo surgimento de uma cultura de editais, que de certa maneira impõe um modelo a ser seguido pelo cineasta.
Pela ética, personalidade e precisão de sua obra, Tonacci é considerado uma das maiores referências do cinema brasileiro. O diretor faleceu nesta sexta-feira (16) e, em sua memória, o Assiste Brasil selecionou três filmes que foram marco em sua trajetória.
1. Bla Bla Blá (1968)
O ano de 1968 marca no Brasil o início dos Anos de Chumbo, durante a ditadura militar, com a instituição do AI-5 por Costa e Silva. Nesse mesmo ano, Andrea Tonacci faz uma provocação direta ao regime ditatorial com o curta Bla Bla Blá. O ator Paulo Gracindo assume o papel de um ditador demagógico, que utiliza o poder da palavra para manipular a massa. O filme é uma sátira à farsa dos discursos de intenção humanistas dos governantes militares.
2. Bang Bang (1971)
Seu primeiro longa-metragem é considerado um divisor de águas do cinema brasileiro e um dos marcos do Cinema Marginal. É dele que vem uma das cenas mais icônicas do movimento cinematográfico, com o ator Paulo Cesar Pereio usando uma máscara de macaco. Radical e inventivo, o filme é uma metáfora ao homem que se vê sem saídas diante da intensificação da ditadura militar no Brasil. Bang Bang foi exibido na Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes.
3. Serras da Desordem (2006)
Após nove anos sem lançar novos filmes, Andrea Tonacci apresenta o impactante Serras da Desordem, que reconstrói a história do massacre da tribo Awá-Guajá nos anos 1970 na Amazônia. O diretor escalou personagens reais para viver novamente aquilo que presenciaram anos atrás. O filme rendeu-lhe o Kikito de Melhor Diretor no Festival de Gramado e, em 2015, entrou para a lista da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos.