Descontentes e frustrados com a falência das companhias cinematográficas paulistas na década de 1950, jovens idealizadores começam a formalizar uma nova estética de cinema mais barata, capaz de realizar-se de maneira mais independente. Dessa forma, o Cinema Novo nasce buscando um maior realismo, uma atmosfera e luz documental, inspirados especialmente no Neorrealismo Italiano – claras evidências estéticas e narrativas, com conteúdo crítico – e na Nouvelle Vague Francesa que recentemente havia estourado no meio. O Cinema Novo brasileiro é, talvez, o único e grande movimento cinematográfico brasileiro de renome internacional (não que isso signifique alguma coisa ou desmereça outros), tendo “Deus e o Diabo na Terra do Sol” concorrido em Cannes e “O Pagador de Promessas” saído como vitorioso.
– O Pagador de Promessas
Direção: Anselmo Duarte
Zé do Burro (Leonardo Villar) e sua mulher Rosa (Glória Menezes) vivem em uma pequena propriedade a 42 quilômetros de Salvador. Um dia, o burro de estimação de Zé é atingido por um raio e ele acaba indo a um terreiro de candomblé, onde faz uma promessa a Santa Bárbara para salvar o animal. Com o restabelecimento do bicho, Zé põe-se a cumprir a promessa e doa metade de seu sítio, para depois começar uma caminhada rumo a Salvador, carregando nas costas uma imensa cruz de madeira. Mas a via crucis de Zé ainda se torna mais angustiante ao ver sua mulher se engraçar com o cafetão(Geraldo Del Rey) e ao encontrar a resistência ferrenha do padre Olavo (Dionísio Azevedo) a negar-lhe a entrada em sua igreja, pela razão de Zé haver feito sua promessa em um terreiro de macumba.
– Deus e o Diabo na Terra do Sol
Direção: Glauber Rocha
Manuel (Geraldo Del Rey) é um vaqueiro que se revolta contra a exploração imposta pelo coronel Moraes (Mílton Roda) e acaba matando-o numa briga. Ele passa a ser perseguido por jagunços, o que faz com que fuja com sua esposa Rosa (Yoná Magalhães). O casal se junta aos seguidores do beato Sebastião (Lídio Silva), que promete o fim do sofrimento através do retorno a um catolicismo místico e ritual. Porém ao presenciar a morte de uma criança Rosa mata o beato. Simultaneamente Antônio das Mortes (Maurício do Valle), um matador de aluguel a serviço da Igreja Católica e dos latifundiários da região, extermina os seguidores do beato.
– A Hora e a vez de Augusto Matraga
Direção: Roberto Santos
Augusto Matraga (Leonardo Villar) é um fazendeiro violento, que é traído pela esposa, emboscado por seus inimigos, acaba massacrado e é dado como morto. É salvo por um casal de negros e, desde então, volta-se para a religiosidade. Mas quando conhece Joãozinho Bem Bem (Jofre Soares), um jagunço famoso, este percebe nele o homem violento. Daí em diante Matraga vive o conflito entre o desejo e a vingança e sua penitência pelos erros cometidos
– Terra em Transe
Direção: Glauber Rocha
O senador Porfírio Diaz (Paulo Autran) detesta seu povo e pretende tornar-se imperador de Eldorado, um país localizado na América do Sul. Porém existem diversos homens que querem este poder, que resolvem enfrentá-lo.
– Os Fuzis
Um grupo de soldados é enviado ao nordeste do Brasil para impedir que cidadãos pobres saqueiem armazéns por causa da fome.
– O Desafio
Direção: Paulo César Saraceni
Por tratar do romance entre a mulher de um rico industrial, Ada e Marcelo, um estudante de esquerda, foi entendido como apologia do amor entre as classes. Passou pela censura do regime militar.
Pode-se dizer que o diretor quis investigar as razões do Golpe Militar de 1964 (a traição da burguesia industrial, que não se mostrou progressista) e seu impacto psicológico sobre os intelectuais.
O filme terminou quando Glauber Rocha, Carlos Heitor Cony, Flávio Rangel, Paulo Francis e outros foram presos em 1965, no fim da escadaria do bairro carioca da Glória, perto de um hotel onde esses intelectuais protestaram contra a ditadura militar diante de autoridades internacionais.
– Os Deuses e os Mortos
Direção: Ruy Guerra
Sul da Bahia, década de 30. Um homem sem nome e sem passado, sete vezes baleado, intromete-se na luta entre dois clãs de grandes coronéis pela posse da terra e do cacau. É uma luta de interesses econômicos, de produtores e exportadores. Nesse clima tropical dos cacauais e bananais, cresce uma corrida-do-ouro que atrai aventureiros, jagunços, sertanejos fugitivos do sertão, prostitutas, jogadores, circos e ilusões. Os mortos se mostram e se escondem. É uma cultura sanguinária, cruel, fascinante, de ouro, de homens, de deuses e de mortos.
– Macunaíma
Direção: Joaquim Pedro de Andrade
Macunaíma é um herói preguiçoso, safado e sem nenhum caráter. Ele nasceu na selva e de preto, virou branco. Depois de adulto, deixa o sertão em companhia dos irmãos. Macunaíma vive várias aventuras na cidade, conhecendo e amando guerrilheiras e prostitutas, enfrentando vilões milionários, policiais, personagens de todos os tipos.
– O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro
Direção: Glauber Rocha
Numa cidadezinha chamada Jardim das Piranhas aparece um cangaceiro que se apresenta como a reencarnação de Lampião. Seu nome é Coirana. Anos depois de ter matado Corisco, Antônio das Mortes (personagem de Deus e o Diabo na Terra do Sol) vai à cidade para ver o cangaceiro. É o encontro dos mitos, o início do duelo entre o dragão da maldade contra o santo guerreiro. Outros personagens vão povoar o mundo de Antônio das Mortes. Entre eles, um professor desiludido e sem esperanças; um coronel com delírios de grandeza, um delegado com ambições políticas; e uma linda mulher, Laura, vivendo uma trágica solidão.
– Vidas Secas
Direção: Nelson Pereira dos Santos
Baseado na obra de Graciliano Ramos, mostra a saga da família retirante pressionada pela seca no sertão brasileiro. Fabiano, Sinhá Vitória, o filho mais velho e o mais novo, além da cachorra Baleia, atravessam o sertão tentando sobreviver.