O avanço de políticas públicas para o setor audiovisual e ações de fomento iniciaram na última década o debate sobre a inclusão de gênero, raça e identidade sexual no cinema brasileiro. Nos anos 2010, foi notável a renovação do meio com o acesso de novos agentes propondo outros olhares e histórias. Entretanto, essa mudança não foi estrutural e se expressou principalmente na produção de curtas-metragens que circularam em circuitos alternativos, como festivais e mostras de cinema que propõem recortes específicos. É preciso enfatizar que o desmonte progressivo da Ancine, o abandono da Cinemateca Brasileira e a escassez de recursos para universidades públicas impossibilitam o desenvolvimento de um cinema brasileiro mais inclusivo e plural.

A pesquisadora Marcia Rangel Candido, do Grupo de Estudos Multidisciplinar da Ação Afirmativa (GEMAA/IESP-UERJ), destaca que os longas-metragens brasileiros são historicamente brancos, masculinos e excludentes. As produções audiovisuais de grande público estudadas, aponta Candido, estão concentradas na região Sudeste e não tematizam orientações sexuais, assumindo a heterossexualidade como norma. Para localizar um outro cinema brasileiro possível nesse contexto, o Assiste Brasil selecionou dez curtas da última década protagonizados por personagens LGBTQIA+ que estão disponíveis para assistir online.

Tailor, de Calí dos Anjos (2017, RJ)

O documentário de animação é baseado na obra do cartunista Orlando Tailor e apresenta relatos de outras pessoas trans sobre a experiência de viver nesta sociedade.

Ilhas de Calor, de Ulisses Arthur (2019, AL)

Energia adolescente, corpos agitados e desejos latentes. Fabrício descobre sentimentos e quer se expressar. O curta, realizado coletivamente numa escola pública do interior de Alagoas, sobrepõe inventividade à banalidade do cotidiano. Gratuito na plataforma Itaú Cultural Play.

Afronte, de Bruno Victor e Marcus Azevedo (2017, DF)

https://vimeo.com/234141762

Documentar e fabular a vivência de bichas pretas neste país racista, machista e homofóbico. Os diretores escolhem a via do afeto, da valorização e da coletividade para contar histórias de resistência.

Quebramar, de Cris Lyra (2019, SP)

Um grupo de jovens mulheres encontra refúgio físico e emocional num lugar imaginado coletivamente.

Quinze, de Maurílio Martins (2014, MG)

Maternidade homoafetiva e uma pausa para sonhar.

A Felicidade Delas, de Carol Rodrigues (2019, SP)

Fugir do caos e ir ao encontro da felicidade. Disponível no MUBI.

Tea For Two, de Julia Katharine (2018, SP)

https://www.youtube.com/watch?v=YDfGJDzNKfw

A diretora, também personagem do curta, cria uma história no entreato das paixões: uma que passa, outra fulmina.

Rebu – A Egolombra de uma Sapatão Quase Arrependida, de Mayara Santana (2020, PE)

https://www.youtube.com/watch?v=BSKfsi_7Tm4

Confissões em primeira pessoa para pensar o que se foi, o que se é e o que poderá ser.

Para Todas as Moças, de Castiel Vitorino Brasileiro (2019, ES)

https://www.youtube.com/watch?v=7wCsV2LhLTE

A artista visual convoca espiritualidade e ancestralidade num cinema de reza, oração, bênção ou feitiço.

Reforma, de Fábio Leal (2018, PE)

Questões do corpo e projeções de si. O diretor, também roteirista e protagonista do curta, constrói uma ficção intrinsecamente vinculada à sua vivência pessoal, garantindo fluidez e naturalidade à narrativa.