“Stella Rocha ofusca o mundo todo”, escreveu o Huffington Post; “sensação na Croisette”, destacou a Marie Claire quando o assunto foi a passagem da atriz pelo tapete vermelho no Festival de Cannes deste ano. Com um vestido ousado, praticamente transparente, a paraense de Belém marcou presença no mais glamouroso festival de cinema como parte do elenco de Love, novo filme de Gaspar Noé.
Apesar de todas as manchetes e expectativas para conferir a nova produção do cineasta argentino, que traz cenas de sexo explícito em 3D, no Brasil, poucos sabem sobre o brilho de Stella. Formada em dramaturgia na França, a brasileira mudou-se para Paris ainda cedo, quando tinha 16 anos, e apostou tudo em seu talento inato.
Sua estreia nas telonas foi em 2001, com L’ex-Femme de ma Vie, de Josiane Balasko, onde atuou ao lado de Joseane Balasko. Já no teatro, seu primeiro trabalho foi junto a outro renomado ator francês, Laurent Baffie, que também convidou Stella para comandar um quadro de entrevistas com celebridades em um programa televisivo de grande audiência no país.
Do Brasil para França
Seu pai, delegado. Sua mãe, uma católica conservadora. Descobrir-se e revelar à sociedade o que realmente queria ser não foi um processo tão natural quanto deveria ser. “Com 16 anos participei de um concurso de beleza em Belém, o Miss Universo, e ganhei representando o Brasil. Tudo isso escondido da família. Voltei toda feliz para casa pensando que tinha tirado toda a maquiagem e quando acordei foi um escândalo. Alguém da minha rua também me reconheceu e espalhou para todo mundo”, relembra Stella em entrevista à Rolling Stone Brasil.
A orientação sexual de Stella tornou-se “o” assunto da vizinhança e seus pais sentiram-se incomodados com a repercussão do fato. “Eles já sabiam, tinham percebido, mas não era nem por eles. Não queriam aceitar pelo que a vizinhança ia dizer: ‘O filho do delegado Barreto é viado’. A família inteira do meu pai era de policiais. Não me expulsaram, mas me prenderam muito. Só ia da escola para casa, estava proibida de ver meus amigos”, disse.
Foi após o episódio que Stella mudou-se para a França, com a ajuda de três irmãs que já viviam no país. A jovem não teve medo de enfrentar o preconceito e pode ser considerada uma vitoriosa. Em 2010, representou a França no concurso Miss International Queen, sem precisar se esconder para isso. Hoje, cidadã brasileira e francesa, tem residência fixa em Paris e carrega em seu passaporte o nome que escolheu.
“Ganhei o mundo e ganhei minha vida. Mostrei para a minha família que não é só porque a gente é transexual que a gente tem que ‘fazer pista’. Eles estiveram aqui em Paris quando eu estava no teatro, em 2009, no Palais Royale. Tive o grande prazer de recebê-los. Eles choraram, me abraçaram, me beijaram e disseram: ‘Meu filho, te amo demais, temos orgulho de você'”, contou a atriz.
Antes e depois Love
Além das temporadas nos teatros e dos trabalhos no cinema, Stella também é comediante. Ela é animadora do Banana Café, em Paris, local onde foi descoberta pela produção de Love. No filme de Gaspar Noe, a atriz estrela uma cena de sexo com os personagens Electra e Murphy, casal protagonista interpretado por Aomi Muyock e Karl Gusman.
Foram mais de quatro horas de gravações para selecionar apenas alguns minutos da cena. No entanto, apesar de sua participação ser breve, não significa que tenha passado despercebida. A repercussão de seu papel em Love já abriu novas oportunidades para a atriz transexual. Em breve, seu próximo papel nos cinemas deve ser em Logement Partagé, do diretor François Desagnat, com André Dussollier, ator de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain. Stella também espera conseguir mais papéis não só na França, mas também no Brasil, onde nunca apresentou seu trabalho.