Elke Maravilha morreu aos 71 anos na madrugada deste terça-feira (16), no Rio de Janeiro. Nascida na antiga União Soviética, mudou-se para o Brasil ainda criança. Seus pais, perseguidos durante o regime de Stalin, encontraram refúgio em fazendas no interior de Minas Gerais, onde Elke cresceu. Polêmica e performática, a artista já foi professora de línguas, tradutora, intérprete, bancária, secretária, até que aos 24 anos iniciou a carreira de modelo.

No Rio de Janeiro, Elke também fez cursos de cinema e teatro, o que abriu portas para participações em novelas, filmes e também em programas televisivos. Por seu desempenho como a dona de bordel Madame Yara na minissérie “Memórias de um Gigolô” (1986), foi convidada para ser madrinha da Associação das Prostitutas do Rio de Janeiro.

Seu nome artístico “Maravilha” foi dado pelo jornalista Daniel Más e apresentado ao Brasil por Chacrinha, com quem trabalhou por 14 anos como jurada. Também participou como jurada do programa Show de Calouros, apresentado por Silvio Santos. Com perucas e roupas exuberantes, transmitia alegria e mensagens positivas aos espectadores. Entre 1993 e 1996 teve seu próprio programa na TV, chamado “Programa Elke Maravilha”.

Ditadura

Entre as décadas de 1960 e 1980, foi uma das expoentes do Movimento de Arte Pornô, vanguarda artística brasileira que surgiu em resistência ao Golpe militar de 1964. Amiga de Zuzu Angel, Elke foi presa em 1971 após protestar contra a tortura e consequente morte de Stuart Angel Jones. Após o ocorrido, perdeu sua nacionalidade brasileira.

A história é contada em “Zuzu Angel” (2006), com direção de Sergio Rezende, em que Luana Piovani interpreta Elke Maravilha. No filme, Elke faz uma participação especial como cantora de um cabaré, em que interpreta a música alemã “Lili Marlene”, da cantora e atriz Marlene Dietrich.

Cinema e TV

Em 1970, Elke fez uma participação no filme “Salário Mínimo” como modelo. Da sua estreia até 1973, participou de mais quatro filmes e conquistou seu primeiro papel na TV, na novela “A Volta de Beto Rockfeller”, exibida pela TV Tupi. Elke fez participações especiais em diversas novelas, entre elas “Pecado Capital”, “Da Cor do Pecado” e “Caminho das Índias”.

No cinema, sua carreira foi mais intensa. Trabalhou ao lado de Grande Otelo em “O Barão Otelo no Barato dos Bilhões” e esteve no elenco de “Quando o Carnaval Chegar”, musical de Cacá Diegues. Em sua filmografia, ainda estão filmes como “Xica da Silva”, “Pixote, a Lei do Mais Fraco”, “Xuxa Requebra”, “Alô, Alô, Terezinha”. Em 2010, por sua atuação em “A Suprema Felicidade”, foi indicada ao prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro.

Suas últimas participações no cinema foram em “Meu Passado Me Condena – O Filme” (2013), “A Lenda do Gato Preto” (2015) e em “Carrossel 2: O Sumiço de Maria Joaquina” (2016).